A presença da Filosofia nas escolas é tema de reflexão constante desde que ela se torna novamente obrigatória nos currículos do Ensino Médio em 2008. Banida em 1971 e ausente do currículo por várias décadas em parte significativa dos estados brasileiros, ela aparecia nas aulas, em especial dos professores das ciências humanas, timidamente. A inserção da disciplina em todo o país tem sido solo frutífero de pesquisa sobre a melhor maneira de garantir que a Filosofia tenha um papel formativo significativo na vida dos estudantes.
Um dos aspectos centrais para reflexão que surge com a presença formal da Filosofia em todas as escolas de ensino médio do país é se a formação do professor de Filosofia é compatível com os objetivos da disciplina, mas principalmente se é compatível com as potencialidades formativas da Filosofia na vida dos jovens, bem como se há espaço para o impacto positivo que ela pode causar tanto em uma dimensão antropológica, quanto política no âmbito da escola.
Parte significativa dos professores de Filosofia tiveram sua formação centrada no estudo da História da Filosofia, muitas vezes na historiografia ou ainda, na cronologia de pensamentos produzidos na Europa e, mais recentemente, nos Estados Unidos. Ao avançar nos seus estudos para além da graduação, o recém-formado é colocado em um contexto de especialização reducionista que o forma como especialista de um aspecto da obra de um filósofo. Questões ligadas à educação, de práticas de ensino, estágios, e teorias pedagógicas necessárias ao trabalho docente são tratadas em separado gerando uma formação cindida e muitas vezes, deslocada.
A Universidade Federal do ABC tem se esforçado para construir uma formação diferenciada de seus estudantes na Licenciatura em Filosofia em que os conceitos da Filosofia, não apenas os retirados da tradição europeia, mas também da filosofia latino-americana, africana, dentre outras, possibilitem ao estudante uma acurada problematização acerca do ensino-aprendizagem do filosofar e do quanto o filosofar está diretamente atrelado ao seu ensino e compartilhamento de saberes da tradição com o outro. O subprojeto aqui apresentado toma como referência o pressuposto de que o ensino de Filosofia é bem-sucedido quando é ensino do filosofar situado no tempo e no espaço do estudante e onde a própria tradição do pensamento ocidental é colocada a serviço dessa tarefa. Em suma, o ensino de Filosofia é bem-sucedido quando é espaço possível de potencialização da singularidade, da diferença e da criação, quando cria condições de possibilidade de restituição da força criativa do pensamento dentro das instituições em que a Filosofia está.
O estudante de Filosofia do ensino médio tem uma relação paradoxal com a Filosofia: uma relação de atração e resistência. Para lidar com essa situação o professor deve estar preparado para criar e usar metodologias de ensino que sejam ferramentas potencializadoras de pensamento, que articulem história da Filosofia, problemas contemporâneos para os quais a Filosofia pode contribuir, com as habilidades cognitivas que a Filosofia desenvolve naqueles que se debruçam sobre ela e que são importantes em diversas dimensões da vida do estudante. Cabe ao professor de Filosofia criar e usar metodologias de ensino de Filosofia que não pressuponha um estudante racional e com disposição natural para o pensar. O pensar não é natural, precisamos desenvolver essa capacidade em nós e em nossos alunos, pensar bem é uma conquista, ser crítico e fortalecer sua capacidade crítica é uma conquista. As metodologias de ensino como fio condutor desse processo devem servir como um engate, um disparador, um dispositivo para o pensar. E isso deve acontecer cotidianamente dentro da escola em atividades diversificadas dentro e fora da sala de aula. É nesse contexto e considerando esses pressupostos que propomos as ações desse subprojeto.
Nota introdutória e justificativa do subprojeto
Descrição da relação do subprojeto de Filosofia
com os objetivos do programa
Com o intuito de ensinar, examinar e criar condições de inventar metodologias inovadoras de ensino de Filosofia as ações desse subprojeto se articularão em três níveis:
a) educação pela pesquisa – fortalecimento do grupo de pesquisa Laboratório de Ensino de Filosofia [LAPEFIL] com a inserção dos 08 estudantes bolsistas do subprojeto de Filosofia, os supervisores das escolas atendidas, professores de Filosofia da grande São Paulo e outros professores de Filosofia interessados em participar;
b) implantação das metodologias na elaboração e desenvolvimento das aulas tanto por parte dos professores quanto dos estudantes bolsistas nas turmas de Filosofia das escolas atendidas pelo subprojeto;
c) criar espaços de reflexão filosófica nas escolas e na UFABC sobre as produções do grupo que resultem em oficinas de formação de professores da região, bem como criar condições para que o ensino-aprendizagem se efetive de maneira satisfatória para todos os envolvidos;
d) produzir materiais didáticos para a implantação de metodologias e envolver os estudantes em atividades culturais previstas nos materiais didáticos.
O projeto, por meio de suas ações, possibilitará tanto aos estudantes da licenciatura uma formação docente mais qualificada, quanto levará para o próprio cotidiano do professor (que já atua nas escolas uma formação continuada) tal qualificação, valorizando das duas formas o magistério com a integração dos espaços escolares da educação básica com a UFABC. As propostas de ação que giram em torno de métodos, estratégias e técnicas de ensino na escola pública possibilitam ao estudante uma aplicação das teorias que esse aprende no âmbito da sua formação na Universidade e aos professores formados em outras instituições de conhecer as pesquisas que têm sido realizadas na área de Ensino de Filosofia na UFABC e que todos em conjunto examinem se as propostas são satisfatórias para superação de problemas identificados no processo de ensino e aprendizagem possibilitando um ajuste das próprias metodologias propostas a partir das experiências vivenciadas pelo projeto.
As ações do projeto têm como foco a formação multilateral de estudantes da licenciatura em Filosofia da UFABC, supervisores e professores, estudantes da educação básica e coordenação de área. O planejamento semanal das atividades tem como foco agregar ao espaço da escola mais espaços formativos e levar os grupos envolvidos para espaços outros de formação (físicos e virtuais) que contribuam para o fortalecimento do aprendizado, fortalecimento do pensamento crítico e desenvolvimento em todos da capacidade de construção de conhecimento.
Isso se dá fundamentalmente com a organização das ações [descritas abaixo] considerando de forma crítica as diretrizes e currículos educacionais da educação básica para o ensino de Filosofia que tem diversos limites, a precariedade dos materiais didáticos oferecido pelo governo do estado de São Paulo ao professor e ao estudante e trazendo para o cotidiano de todos os envolvidos leitura e discussão de referenciais teóricos contemporâneos educacionais para o estudo de casos didático-pedagógicos, em especial as inúmeras referências de qualidade tanto teórico quanto práticas sobre Ensino de Filosofia, bem como os diversos materiais didáticos disponíveis para o uso em sala de aula. O estudo de metodologias e teorias inovadoras possibilita que se faça uma mediação didática entre o que tem sido feito, a prática e a experiência dos professores das escolas de educação básica, com seus saberes sobre a escola e os novos conteúdos.
As ações propostas abaixo consideram a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e apesar de focadas no aspecto formal do ensinar a filosofia, carregam consigo tematicamente questões contemporâneas para serem pensadas durante a formação do estudante da educação básica, como questões ambientais, éticas e de igualdade econômica e social que atravessarão as atividades. Enquanto forem efetivadas as ações sistematizaremos e registraremos com instrumentos de avaliação os impactos no cotidiano do professor (em especial quanto a sua capacidade de inventividade na forma de ensinar) e do aluno (em especial na superação das dificuldades de aprendizagem).
Projeto
Ações
1) Educação pela pesquisa – exame e criação de metodologias de ensino de Filosofia no LAPEFI
Detalhamento:
O grupo de pesquisa LAPEFI – Laboratório de Pesquisa e Ensino de Filosofia - criado em 2013¹ , é composto por professores e estudantes da UFABC que dedicam à pesquisa em Ensino de Filosofia com diversos projetos de pesquisas em andamento. A proposta do subprojeto de Filosofia é criar uma linha específica de pesquisa em metodologia de ensino de Filosofia com enfoque em criação de metodologias inovadoras que deem conta das dificuldades encontradas pelos professores da rede pública de ensino.
Serão agregados como pesquisadores os estudantes bolsistas, os supervisores das escolas atendidas e professores que se interessarem pela proposta. Os encontros do grupo serão alternados entre estudos e exames de metodologias existentes e oficinas de formação em metodologias de ensino de Filosofia diferenciadas como metodologias que priorizam o caminho do filosofar (do afeto ao conceito) e o uso operadores conceituais na produção do pensamento filosófico. Já foi realizada uma primeira oficina em 2015, com apoio da ANPOF – Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia e APROFFESP – Associação de professores de Filosofia do Estado de São Paulo.
As atividades do grupo serão compostas pelo exame, criação e aplicação de metodologias no interior do próprio grupo, mas com divulgação ampla para participação de professores de Filosofia de toda grande São Paulo, o estudo de referenciais teóricos contemporâneos que contribuam para a reflexão das metodologias, bem como a produção de materiais didáticos para auxiliar os professores nas suas atividades.
Estão previstos encontros quinzenais do grupo.
1 O grupo está registrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPQ - dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/6222362969860982
2) Produção de material didático e uso de metodologias inovadoras de ensino de Filosofia na sala de aula, elaboração de sequências didáticas usando os materiais elaborados
Detalhamento:
As experiências e materiais elaborados no âmbito do grupo de pesquisa serão levadas para sala de aula, tanto pelos professores quanto pelos estudantes. A ação implica na elaboração de aula, adequação ao grupo, ajustes às condições físicas da escola e temáticas desenvolvidas pelo professor e aplicação da proposta. As intervenções serão feitas em aulas de 40 minutos ou em blocos de três aulas, dentro da programação do professor responsável pela turma.
Está prevista no subprojeto pelo menos uma intervenção mensal em cada escola atendida.
3) Oficinas de diagnóstico do presente: a Filosofia e o posicionamento no tempo e no espaço
Detalhamento:
Os estudantes das escolas serão convidados para participação em atividades extraclasse no formato de oficinas tanto na escola quanto na UFABC em que serão desenvolvidas habilidades de expressão escrita e oral, bem como capacidade de reflexão aprofundada sobre temas do contemporâneo. As oficinas serão abertas à comunidade circundante e envolverá exibição de vídeos, exposição de temas por convidados e rodas de conversa sobre temas diversos da contemporaneidade.
Os materiais e temas das oficinas serão escolhidos a partir de temáticas de interesse do momento (com enfoque especial em ética, direitos humanos, participação política, compreensão de temas contemporâneos), sempre com o intuito de diagnosticar, pensar e se posicionar em relação ao próprio tempo e espaço.
Está previsto no subprojeto no mínimo uma atividade mensal que pode ser realizada na escola ou na UFABC.
4) Inserção e intervenção nos espaços escolares e outros espaços – a produção de novas cadeias causais
Detalhamento:
Por meio da participação em reuniões pedagógicas, reuniões de pais, hora de trabalho pedagógico, pretende-se fazer um diagnóstico de problemas e possibilidades de contribuição da Universidade para melhoria e solução de problemas de ensino-aprendizagem dos estudantes nas escolas atendidas.
A metodologia da ação será o levantamento de necessidades das escolas, junto aos professores, alunos e funcionários da escola, avaliação do impacto dessas necessidades no processo de ensino-aprendizagem, compartilhamento com o grupo dos subprojetos que atuam na escola e elaboração de propostas de intervenção em forma de projetos adicionais que podem ser acoplados ao projeto inicial.
5) Oficinas de formação de professores – ensino de filosofia
Detalhamento:
Enquanto as ações do subprojeto forem realizadas (encontros do grupo de pesquisa, produção de materiais, elaboração e realização das oficinas, participação em atividades nas escolas) será feita a sistematização dessas atividades com dados e imagens, aplicados instrumentos de avaliação do impacto das ações com intuito de produzir material concreto sobre o impacto do projeto e compartilhamento dos resultados com professores de outras escolas. Serão realizadas também oficinas de formação nas metodologias desenvolvidas.